quinta-feira, 1 de julho de 2010

Tirar apenas notas altas no ensino médio não traz garantias de um bom desempenho no ensino superior...

Iria a princípio postar algo diferente para hoje, mas como o tema parece relevante nessa época e já que tem gente interessada, vou falar sobre o abismo que separam o ensino médio e ensino superior no Brasil e as consequências disso.
Bem, já tive vários amigos que inclusive tiravam sarro na escola que mais tarde nem sequer tiveram coragem de enfrentar um curso superior e alguns que tentaram e abandonaram tão logo virão surgir as primeiras dificuldades.


Para dar alguma explicação a esse fenômeno, vou separar as escolas de ensino fundamental e médio do Brasil em dois grupos (vou só dar uma visão geral, já que a diferença entre ambas merecem pelo menos um artigo separado e se for do interesse dos leitores, pode ser tratado posteriormente):

-As escolas particulares: se preocupam sobretudo se seus alunos estão preparados para “passar no vestibular”
-As escolas públicas: em modo geral se preocupam em “despachar o aluno”o mais rápido possível, afim de que ele não fique ocupando vaga por muito tempo e oferecer mais vagas para mais gente.

Perceba que, apesar de muitos políticos gostarem de dizer coisas diferentes, na realidade nenhum dos dois grupos de escolas preparam os alunos para o mercado de trabalho ou para o ensino superior. E é aí que a grande barreira inicial dos alunos que entram em alguma universidade costuma surgir!

Sim: até porque um bom curso superior ao contrário de um curso de ensino médio não deve ter nenhuma obrigação de “ser didático”ou “facilitar o aprendizado do aluno”. Ele deve ter obrigação de formar bons profissionais e oferecer uma boa estrutura para que isso seja possível.
Por um bom profissional, principalmente se a universidade onde você estiver estudando incentivar uma pós-graduação (especialização ou mestrado/doutorado), entende-se muitas vezes “ser capaz de buscar o conhecimento por sí”.
E é aí, meus amigos, que o bicho pega.

Principalmente se o curso pedir um nível de abstração maior (coisa comum em cursos de exatas, principalmente as ligadas às ciências básicas -matemática, física teórica, química teórica, filosofia-, cursos superiores referentes a computação -sobretudo se tratarem de computação em nível baixo- e engenharias em geral, - esses cursos são inclusive, os que trazem maiores níveis de evasão, o que de forma alguma quer dizer que os outros serão “fáceis”) o pobre incauto terá que “ralar” bastante para buscar este conhecimento. Nada vem mastigado.
Não existe professor, mãe, colega... que puxará o pequeno discente pelo braço ou ficará disponível o tempo que ele quiser pará ajudá-lo. Num curso superior você ficará muitas vezes “por sí mesmo”, sozinho, “alone”.

Um docente tem somente a obrigação de cobrar em trabalhos e em provas, a matéria dada, além de disponibilizar aos alunos a ementa. Não ache que todos eles vão ser extremamente didáticos para você, que vão trazer a matéria mastigada, que vão explicar todos os itens que você quiser ou vão tirar suas mínimas dúvidas.
Não ache que seus colegas farão tudo por você (sobretudo se você nunca fizer nada por eles).

Ser um bom aluno em um curso de ensino médio, muitas vezes requer que o pobre incauto tenha nervos de aço para copiar mecanicamente toda a matéria que é passada no quadro, mesmo que não se preocupe em entender o que está escrito. O ideal no ensino médio é, inclusive, copiar com as mesmas palavras. Não tem em geral o intuito ser fonte de referências futura.
Nisso, eu acredito que seja uma grande vantagem do ensino superior, não costuma existir um professor que fica olhando se você copiou ou não a matéria. Nem se você está prestando atenção no que eles falam. Se você aprender o que for importante e conseguir cumprir com seus objetivos, parabéns, não importa quais os caminhos que você usou para chegar lá, desde que não sejam ilícitos (colar em uma prova em uma universidade pode até resultar em expulsão imediata, dependendo da escola).

As bibliotecas de um curso superior em geral também traz um belo acervo de livros, que se mostrarão bastante úteis. Sua escola de ensino médio não incentivar você a ser curioso e buscar por sí só informações na biblioteca, pode ser que você venha a ter um sério problema se quiser estudar em uma universidade depois.

Na universidade, mesmo que você frequente as aulas unicamente para obter apenas sua presença, desde que consiga fazer os trabalhos e estudar sozinho sem ter visto aquilo antes, tudo bem.

Mas eu não costumo recomendar isso sobretudo se você não puder correr atrás da matéria depois. Você pode ser o supremo imperador da terra média: se você não aprender a matéria a um nível para ser considerado um bom profissional e não conseguir cumprir seus objetivos (trabalhos, relatórios, etc.) nos prazos para cada disciplina, você terá de fazê-la de novo e sofrer as consequências disso (que podem envolver você perder sua bolsa de estudos, perder seu estágio, perder seu visto de estudo (se for estrangeiro), perder a chance de fazer um doutorado, perder o emprego que tinha a cláusula de não repetir certo numero de disciplinas, ter de abandonar seu cartão para almoçar com desconto na cantina ou abandonar a residência cedida pela universidade, ou na melhor das hipóteses(se for uma universidade particular), ter de pagar mais um semestre para fazer uma disciplina novamente.

Para o pessoal que esteja prestando vestibular, está pensando em entrar numa universidade ou acaba de passar em alguma para iniciar logo agora no meio do ano, gostaria que refletissem nesse assunto.
É...
A encrenca não acaba quando você passar num vestibular: ela só começa...

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